A supervalorização dos laços sanguíneos leva a sociedade a ignorar problemas familiares?

Proposta de Redação

A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema “A supervalorização dos laços sanguíneos leva a sociedade a ignorar problemas familiares?”, apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

TEXTO I

Família também pode ser tóxica

Ter um relacionamento, amigo ou conhecido tóxico é comum, quase todo mundo tem ou já teve. Mas quando essa pessoa é nosso familiar ou parente, nem sempre percebemos sua toxidade. Vale lembrar que nos referimos a comportamentos ou atitudes consideradas tóxicas que determinadas pessoas fazem e que são prejudiciais a outras e não a pessoa em si. Por mais que possa parecer visível, tendemos a tolerar atitudes tóxicas de familiares que, talvez, não toleraríamos de amigos ou pessoas mais próximas. E por quê? Porque historicamente somos ensinados a isso.

Homero Belloni, psicólogo, explica que as primeiras relações que nós temos na vida são as relações familiares e por isso a cultura tenta preservá-las de alguma forma, impondo uma série de restrições e tabus. “Ou seja, só é permitido sentir coisas positivas entre os familiares. Agressividade e alguns impulsos sexuais, por exemplo, a cultura não permite, no entanto, não quer dizer que eles não existam”, diz. Esses sentimentos e emoções ficam em segundo plano e não podem aparecer, devem ficar reprimidos.

Segundo Eduardo Name Risk, psicólogo, doutor em psicologia e professor adjunto do Departamento de Psicologia da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), essa concepção da família como instituição que promove conforto material, afetivo, segurança e zelo aos seus membros, repleta de distinções histórico-culturais, frutificou-se na passagem do século 17 para o 18, no contexto europeu, por meio da privatização da vida familiar conforme registrou o historiador francês Philippe Ariès na obra “História social da criança e da família”. “Nesse período, os integrantes da família recolheram-se à sua intimidade e, aos poucos, os pais —mas sobretudo a mãe — devotaram-se aos cuidados das crianças com dedicação e afeto, vivendo o correspondente ‘sentimento de família'”, esclarece Risk. Por ter que aceitar e fazer “tudo pela família” é que muitas vezes não identificamos quando algum familiar tem comportamentos tóxicos e nos fazem sofrer. “Ao mesmo tempo em que a família pode estabelecer as bases para os sentimentos de amor e reconhecimento, ela também pode traçar as linhas gerais de nossas dores e nossas fragilidades”, afirma Tiago Ravanello, psicólogo e professor da UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul).

Disponível em: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2020/05/23/familia-tambem-pode-ser-toxica-veja-como-lidar-nesses-casos.htm (Adaptado)

TEXTO II

“Minha mãe nunca me amou”: relatos de filhas das chamadas genitoras tóxicas

“Desde muito nova, percebi que minha mãe era diferente da maioria. Nenhum abraço, beijo, carinho, nunca falou um ‘eu te amo’ ou teve qualquer demonstração de afeto com os filhos. Não tenho nenhuma lembrança dela brincando comigo, minhas memórias são da minha mãe falando que destruí a vida dela, que tinha vontade de me matar. Eu tinha pavor dela. Tudo começou a piorar na minha adolescência, quando meus irmãos saíram de casa e eu, a caçula, fiquei só. Fui muito espancada, humilhada, entrei em depressão e engordei 30 kg. Daí, ela começou a me chamar de gorda, falava que não havia lugar onde pudesse comprar roupa para mim, coisas desse tipo. Tentei estudar fora também, por um tempo, mas não consegui. Apesar do distanciamento físico, ainda não tinha alcançado minha independência emocional. Foram várias idas e vindas na busca desse amor impossível, até meu esgotamento. Não consegui concluir a faculdade, me tornei uma pessoa insegura, infeliz e depressiva. Há um tempo atrás, já não via mais saída e decidi pelo suicídio. Mas me deparei com os vídeos falando sobre o transtorno da minha mãe, que pode ser classificada como narcisista ou genitora tóxica. Foi como um clarão e comecei a estudar o assunto. Num primeiro momento, foi muito difícil aceitar que não havia nada que eu pudesse fazer, mas depois me livrei da culpa e, finalmente, comecei a me preparar para tentar uma vida feliz, mesmo as pessoas dizendo “ela é sua mãe, ela te ama do jeito dela”. Hoje, tenho contato zero com ela e com todas as pessoas que se deixaram intoxicar e se omitiram. Ainda estou em tratamento para depressão e esse vazio existencial causado pela falta de um núcleo familiar emocionalmente estruturado. Mas parei de viver para tentar o amor da minha genitora e passei a cultivar o amor próprio.” Marcela*, 32 anos, agente de viagens.

Disponível em: https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2019/04/16/minha-mae-nunca-me-amou-relatos-de-filhas-que-sofrem-com-falta-de-afeto.htm  (Adaptado)